O desenvolvimento urbano em muitas cidades ao redor do mundo prioriza a criação de espaços para carros em detrimento de pedestres, ciclistas ou transporte público. No Brasil, esse design levou a uma média de mais de 30.000 mortes anuais em acidentes de trânsito em todo o país no início do século, além de altos níveis de congestionamento e poluição.
Mas as coisas estão mudando. Nos últimos 20 anos, as fatalidades começaram a diminuir e os centros urbanos se tornaram mais vibrantes, limpos e resilientes.
No coração dessas mudanças está a implementação do conceito de “Ruas Completas”.
O que é a Abordagem de ‘Ruas Completas’?
Muitos governos locais visam reduzir os acidentes de trânsito apenas mudando os comportamentos de motoristas e passageiros, através de campanhas como o uso de cinto de segurança e capacete. Essa abordagem coloca a responsabilidade nos indivíduos, em vez da cidade, para tornar as ruas mais seguras. Ruas Completas muda o paradigma, enfatizando a criação (ou redesenho) de ruas que são seguras, acessíveis e agradáveis para indivíduos de todas as idades e habilidades.
Ao fornecer infraestrutura como ciclovias, calçadas mais largas, bancos e espaços verdes, Ruas Completas incentiva modos ativos de transporte e reduz a dependência de veículos particulares. Também é uma boa estratégia para implementar medidas de pacificação do trânsito que reduzem a velocidade dos carros, melhorando assim a segurança viária.
Desde que o Brasil aprovou sua Lei de Mobilidade Federal em 2012, que prioriza o transporte público, pedestres e ciclistas em detrimento de carros e motocicletas, os governos locais estão gradualmente mudando suas políticas e intervenções para esse modelo mais equitativo e eficiente.
O WRI Brasil trabalhou com a Frente Nacional de Prefeitos do Brasil, Iniciativa Bloomberg para Segurança Global no Trânsito e muitos outros parceiros para apoiar a implementação de 28 projetos diferentes de Ruas Completas em todo o país nos últimos cinco anos. Embora os objetivos dos projetos variem — de zonas escolares a ruas comerciais a hubs de transporte público — cada um destaca como a abordagem de Ruas Completas pode tornar o espaço público mais acessível, agradável, resiliente ao clima e seguro.
Aqui estão três cidades que ilustram essas transformações:
Rua João Alfredo, Porto Alegre: Criando um Espaço Habitável
Com sinalização viária escassa, calçadas estreitas e inúmeros acidentes de carro, a Rua João Alfredo não era diferente de outras ruas na área central de Porto Alegre, a capital do Rio Grande do Sul, no sul do Brasil. Em 2019, a rua recebeu um redesenho completo. O objetivo era tornar a rua de uso misto mais segura e acolhedora durante o dia para centenas de crianças escolares e, à noite, para as muitas pessoas que gostavam de sair para restaurantes e casas noturnas.
A transformação foi feita em várias etapas. Primeiro, a cidade pintou e instalou extensões de calçada e rotatórias, e as existentes foram redesenhadas. As extensões de calçada encurtaram as distâncias para atravessar a rua, enquanto as rotatórias reduziram a velocidade nas interseções.
Faixas de travessia adicionais para pedestres também foram pintadas pela cidade, e o limite de velocidade postado foi reduzido de 40 quilômetros por hora (25 milhas por hora) para 30 quilômetros (19 milhas por hora), uma mudança importante, especialmente para melhorar a segurança de crianças e idosos.
Nas etapas seguintes, novos móveis urbanos foram instalados com vegetação, incluindo lixeiras e bancos feitos por ex-alunos de um projeto social no bairro.